Muitos e muitos anos atrás (when I was so young), atendi aos insistentes apelos de Mamãe e Papai para acompanhá-los em um passeio, durante o qual visitariam parentes com os quais havia pouco contato e proximidade.
Ok, ok, meio a contragosto, lá fomos nós.
Próximo ao nosso destino, encontramos mais uma parcela de nossa família que teve a mesma idéia e seguia para o mesmo endereço. Confesso que até hoje ainda não sei se este encontro foi combinado ou não, mas o fato é que, em caravana, aquele “programa de índio” passou a ficar interessante.
Chegamos ao portão, daqueles feitos com de sarrafo e já todo despinguelado, amarrado aos troncos de madeira com borrachas de pneu de bicicleta, troncos estes que também sustentavam uma cerca de arame farpado.
Sobre esta cerca, cresciam desordenadamente heras selvagens, flores, chuchu e também se estendiam roupas “lavadas” para secar. E ao que constatei, aquelas roupas já estavam por ali secando há vários dias...
Entreolhamo-nos. Risos contidos.
Seguiu-se uma ordem de “silêncio e respeito” que só aquele olhar de Mamãe sabia sugerir.
Batemos palmas. Foi um susto. Surgiram cachorros de todos os tamanhos, raças e cores, vindos dos mais diferentes cantos daquela morada, seguidos de uma senhora desconfiada que se aproximou do portão perguntando quem éramos e o que queríamos.
Uma vez apresentados, convidou-nos para entrar.
Sobre o lavador, havia louça suja desde o tempo da segunda guerra mundial; gatos, cachorros, galinhas, todos os animais enfim, freqüentavam o mesmo ambiente, ou seja, a casa, mais precisamente aquela cozinha, onde fomos acomodados.
Alguém manifestou sede e lhe foi servido um copo de água, que sequer foi levado à boca por estar engordurado e com muito mais impressões digitais que o cenário de um crime.
Então aquela descontente senhora passou a relatar suas dificuldades, dizendo que seus parentes ignoravam sua existência, que necessitava de roupas para si e seus filhos, que havia falta de alimentos, etc e tal, ao que foi interrompida por uma das visitantes que lhe perguntou:
- E o que foi feito de todos aqueles alimentos e todas aquelas roupas que trouxemos há cerca de um mês? Eram tantas e dos mais diferentes tamanhos, que serviriam para todas as estações do ano.
A velha (nem tão velha assim) retrucou:
- O que tinha de bom “nóis” comeu, mas tinha muita coisa que “nóis” nem gostava. Então “ponhô fora”.
- Ah, e aquelas roupas? Já estavam todas sujas, encardida mesmo. Aí joguei tudo fora...
Naquele dia, naquele lugar, quem teve sede não bebeu, quem precisou ir ao banheiro, não foi e quem reclamava de possuir pouco, passou a pensar duas vezes antes de abrir a boca.
POBRE, não é aquele que pouco possui, mas sim aquele que não sabe dar valor e ser grato pelo que tem.
(Lembrei deste episódio no momento em que me deparei com esta figura na rede. Foi mais ou menos isto que encontrei naquela visita)
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